sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ano Novo, configuração do nosso coração ao coração de Cristo!

O ano de 2010 rapidamente vai ficando para traz, e adentramos num novo ano, mas para além de uma cronologia, é tempo de renovarmos nosso ser, retirar aquilo que de fato foi encrostado no decorrer da história, e abrirmo-nos a um tempo novo, um tempo de graça que provém do Cristo.

O novo sempre nos revela, traz à luz aquilo que até então estava escondido, e que agora nos é desvelado. Em sua recente Exortação Apostólica Pós-Sinodal (Verbum Domini), § 14, o papa Bento XVI, citando São João da Cruz diz: “Ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é sua Palavra – e não tem outra – Deus disse-nos tudo ao mesmo tempo e de uma só vez nesta Palavra única e já nada mais tem pra dizer […]. Porque o que antes disse parcialmente pelos profetas, revelou-o totalmente, dando-nos o Todo que é seu Filho”.

Somos convidados a acolher esta boa nova, tendemos ao saber, e em Jesus temos uma vida nova e realmente transformada, aprendemos a compreender que o prazer e as efemeridades deste tempo não são sinônimos à felicidade, e que a felicidade passa pela Cruz, afim de se atingir a plenitude – Ressurreição -. Hannah Arendt em seu livro - A Condição Humana - escreve: “[...] quem deseje fazer do prazer o fim último de toda ação humana, é levado a admitir que não o prazer, mas a dor, não o desejo, mas o medo, são os seus verdadeiros guias”. Em sua Carta Encíclica João Paulo II nos exorta:Na contraposição paulina do “espírito” e da “carne” encontra-se inscrita também a contraposição da “vida” à “morte”. Trata-se de um grave problema acerca do qual é necessário dizer, de imediato, que o materialismo, como sistema de pensamento, em todas as suas versões, significa a aceitação da morte como um termo definitivo da existência humana” Dominum et Vivificantem § 57.

Faz-se necessário em nossos dias um revisar da consciência, um voltar-se as origens, para que o homem redescubra o sentido de sua existência. “Somente o Espírito Santo pode convencer do pecado dos primórdios do ser humano, exatamente ele que é o Amor do Pai e do Filho, ele que é Dom, enquanto o pecado do princípio humano consiste na mentira e na recusa do Dom e do Amor, os quais decidem do princípio do mundo e do homem” Dominum et Vivificantem § 35.

Portanto, neste novo ano que vamos adentrando, saibamos acolher esta grande novidade tão antiga e tão nova, o próprio Cristo, e com Ele saibamos construir uma vida edificada na verdade que nos é revelada pelo Espírito Santo, e que sejamos solidários e promotores de um mundo novo, onde reine a justiça, a paz e o amor.



Feliz Ano Novo !

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

NATAL, Jesus nasça em mim!

A festa do nascimento de Jesus, o Verbo feito carne, mudou o sentido da história da humanidade, e continua a modificá-la, à medida em que esta se deixa moldar pela manifestação constante de Deus na vida humana.

O ser humano, como em nenhum outro tempo vive um vazio existencial tão profundo como em nossos dias. A humanidade cresce, evolui, potencializa o ser humano a viver, a buscar o prazer, a ser feliz, mas infelizmente regride enquanto ser eterno e se afasta das coisas do alto.

Jesus, o próprio amor, se revelou na humanidade para comunicar a boa nova do Pai, Ele é a própria vida que dá sentido ao ser humano, quando este se permite ser tocado por seu amor eterno. Uma das dimensões do amor é filia – amizade -. Jesus enquanto esteve com os seus no evento histórico, demostrou claramente esse amor “amigo”. Nas palavras de João, o evangelista releva algo desta intimidade “já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” Jo 15,15. O próprio Senhor nos demostra que a amizade é um dos caminhos pelo qual o amor de Deus chega ao coração do homem, e não o escraviza, mas ao contrário, dá a conhecer tudo aquilo que possui em excelência, como Jesus nos revelou aquilo que ouviu do Pai e conosco partilhou.

Portanto, que neste Natal possamos pedir a graça de estabelecermos nossa amizade com Deus, que Jesus nasça em nosso coração, dentro desse vazio que enfrentamos em nossa atualidade, e peçamos que Ele, a sua palavra que é vida, cresça em nós e nos leve ao seu seguimento, “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” Jo 13,1.


Feliz Natal e um abençoado Ano Novo.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

ADVENTO: A ESPERA PELO SALVADOR

O Antigo testamento é perpassado pela promessa da chegada do Salvador. O povo que era oprimido e não via esperança diante dos homens, esperava em Deus a vinda dAquele que lhes traria a libertação.

Para receber o Salvador, somos convidados a preparar a nossa casa, nosso coração. Quando Jesus anunciou que ia à casa de Zaqueu, este primeiramente quis colocar em ordem o lugar em que Jesus haveria de adentrar. “Zaqueu ficou de pé e disse: A metade dos meus bens, Senhor, eu dou aos pobres; e; se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. Lc 19,8.

Ter um encontro pessoal com Jesus é algo transformador. É uma metanóia – transformação de vida -. É a mudança – movimento - de uma realidade velha para uma nova. Foi assim que ocorreu com Zaqueu. Cansado da vida que levava, oprimido pela função que exercia como cobrador de impostos, em que era odiado tanto pelo povo, como pelos fariseus; toma a decisão de abandonar tal situação e abre as portas de sua vida para uma nova realidade: Receber Jesus.

Nas palavras do evangelista João, Jesus é “a luz verdadeira, aquela que ilumina todo homem”. Atualmente nossa humanidade caminha em direção contrária aquilo que está inscrito no coração do ser humano (a vida, o amor, a verdade, o bem...). Por isso, se faz necessário no advento uma preparação em nosso interior, uma reflexão mais profunda sobre nossas escolhas, afim de que possamos preparar o nosso coração para aquele que ilumina toda a realidade, “essa luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram apagá-la” Jo 1,5.

É momento propício para nos prepararmos para a chegada do Libertador, Aquele que nos livra de nossas prisões interiores e exteriores, sua palavra é capaz de nos mover, de nos transformar, de nos fazer novos, de ressignificar os acontecimentos passados, e de nos tornar homens e mulheres novos através de seu eterno amor. João Batista é quem dá testemunho dele dizendo: “Eu batizo vocês com água. Mas vai chegar alguém mais forte do que eu. E eu não sou digno nem sequer de desamarrar a correia das sandálias dele. Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo”. Lc 3,16.

É nítido de se perceber que a entrada de Jesus na vida do ser humano produz um efeito libertador. Sua presença torna sagrado aquilo que antes não havia sentido. A chegada de Jesus nos permite conhecer parte daquilo que nos será revelado a posteriori, é uma antecipação da vida plena. O grande Paulo, dá testemunho do que lhe ocorreu após ter permitido a entrada de Jesus em sua vida: “Quanto a mim, foi através da Lei que eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus”. Gl 2,19.

Portanto, assim como Deus espera que seus filhos se voltem a Ele, que nós também esperemos de coração aberto o próprio Salvador, afim de que nossas vidas e nossas realidades, sejam moldadas à luz do Senhor, para que através de nossa conversão, possamos viver e reluzir a glória de Deus no mundo.

domingo, 26 de setembro de 2010

A IGREJA E SUA MISSÃO


A Igreja ao longo dos séculos é transmissora da Palavra de Jesus Cristo, uma Palavra que ultrapassa os limites da razão, sem nos retirar da realidade, e insere no coração de cada homem e de cada mulher a “boa notícia”, capaz guiar e sustentar a humanidade, mesmo nos momentos mais adversos.

Neste mundo de hoje é crescente uma visão tecnicista, reducionista da pessoa humana, um pensamento utilitarista, em que o valor do ser humano está no que ele pode oferecer e não no que ele é (filho de Deus). A proposta da Igreja enquanto instituição mantenedora do depósito da fé, é de fazer ecoar no mundo as palavras do Cristo: “Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a todas as criaturas” (Mc 16,15).

Todo a humanidade está em busca da realização, da vida feliz, mas toda busca mal orientada tem o seu foco perdido, frustrado. É em Jesus de Nazaré que encontramos sentido para a nossa existência. O saudoso papa João Paulo II em sua Carta Encíclica “Fides et Ratio” parágrafo nº 99 escreve: “Na Igreja, o trabalho teológico está primariamente, a serviço do anúncio da fé e da catequese. O anúncio, ou querigma, chama à conversão, propondo a verdade de Cristo que tem o seu ponto culminante no Mistério Pascal: na verdade, só em Cristo é possível conhecer a plenitude da verdade que salva (cf.At 4,12; 1Tm 2,4-6)”.

O encontro com a pessoa de Jesus nos fascina, nos projeta, nos eleva. Nossa religião enquanto formadora e educadora, nos apresenta um Deus presente, mas ao mesmo tempo escondido dentro de nossos corações, não é um deus de fábulas ou de contos, mas ao contrário, um Deus uno e trino, que se revelou na história humana, por meio de seu Filho amado, Jesus, que nos apresentou o Pai e nos enviou o Espírito Santo. “Se me amais, observeis os meus mandamentos; quanto a mim, eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Paráclito, que permanecerá convosco para sempre” (Jo 14,15).

Nas palavras do teólogo galego Andrés Torres Queiruga, “a cruz não tem a última palavra, uma vez que desemboca na ressurreição”. Assim, os desafios e os limites da vida não possuem em si o definitivo, são apenas momentos pertencentes ao tempo, e tudo o que é temporal é passageiro. Durante a vida encontramos muitas dificuldades, passamos por situações de sofrimento, perda, medo, insegurança; tais acontecimentos são próprios de nossa fragilidade humana, mas quando estamos unidos a Deus, seja pela oração, pelos sacramentos, eis que o Espírito nos fortifica, nos forma, nos educa, nos conduz, e então somos capazes de enxergar as realidades de maneira nova, “é como está escrito: Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (I Cor 2,9).

Portanto, a Igreja para além de um lugar de oração é também lugar de formação, de missão, e quer ajudar os seres humanos a se descobrirem e a conhecerem o verdadeiro Deus, que “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” Jo 13,1.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A MISSÃO DO SER HUMANO: DESCOBRIR-SE

O ser humano é um ser inacabado, que mediante a própria existência vai se edificando, escreve sua própria história, e almeja por sua felicidade.

O pessoa humana é relacional, somos seres de relação, precisamos do outro (alteridade) na construção da nossa personalidade, mas não podemos permitir que nossa história seja apenas sobre outro, fazendo-nos perder a identidade, as vezes faz-se necessário tomar as rédeas da própria vida neste processo de descobrimento. Para o filósofo Sêneca, “é preciso atentar para não seguir tal como ovelha o rebanho à frente porque, não sabendo para onde ir, vai para onde as outras se dirigem. Realmente, nada mais pernicioso que se adequar à opinião pública, tendo por mais acertado o que é consensual. Como atestam numerosos exemplos, acontece findar vivendo não de acordo com a razão e, sim, imitando aos outros1.

Há em nós uma procura pela verdade, queremos ir além das nossas realidades, é um desejo. No pano de fundo, buscamos a vida e nos afastamos da morte. Em nosso cotidiano nos deparamos com situações que ora nos vivificam e ora nos matam. Segundo Hannah, “o bem ao qual o amor aspira é a vida, e o mal que o medo afasta é a morte. A vida feliz é a vida que não pode ser perdida2.

O Conhecer-se dá-se a partir do momento em que permitimos que o amor inunde a realidade do nosso ser, levando-nos a compreender o que somos em nossa singularidade e na compreensão do que o outro é, amando o ser humano em sua totalidade (limites e virtudes), essa aceitação torna-nos compreensíveis. Arendt diz que “o amor ao próximo é, pois a realização concreta da relação retrospectiva para além do mundo, e, ao mesmo tempo, empurra o outro para fora do mundo, para que ele veja o sentido do seu ser. Como sugere a identidade entre ser e ser eterno, ele ama o outro não como alguém que vai morrer (moriturus) mas ama nele aquilo que é eterno, a sua origem apropriada3.

Quando o amor vai se desvelando em nosso existir, eis que contemplamos o que somos na mais pura intimidade e interioridade, e somos conduzidos à verdade acerca de nós mesmos. Santo Agostinho assim descreve: “Talvez por amarem a verdade de tal modo que tudo de diferente que amam, querem que seja verdade, e, não admitindo ser enganados, também não querem ser convencidos de seu erro. Desse modo, detestam a verdade por amarem aquilo que tomam pela verdade”4.

Portanto, sejamos missionários a adentrarmos o mais profundo do nosso interior, para assim descobrirmos as insondáveis riquezas do nosso ser, encontraremos lá a força necessária para nortear nossa existência, levando-nos a reconciliar e unir, com o outro e com o mundo. Viver é descobrir-se.

1SÊNECA. A vida Feliz. Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal – 43. Tradução: Luiz Feracine. São Paulo: Editora Escala, 2006. p.32

2 ARENDT, HANNAH. O Conceito de Amor em Santo Agostinho. Lisboa: Editora Piaget, 1997. p. 19

3 Ibid., p.117

4SANTO AGOSTINHO. Confissões. Tradução: Alex Marins. São Paulo: Martin Claret. 2007. p.233

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A BÍBLIA E A HUMANIDADE


A Bíblia reúne histórias da vida do povo judeu, pessoas que viveram dificuldades, como nós, uma vez que viver implica em esbarrar-se nos limites que são próprios do humano. Quando nossa humanidade acolhe e ouve a voz de Deus, que ressoa em nosso íntimo, então somos capazes de viver como os profetas, que traduziram na vida o que acolheram em seus corações.

No Antigo Testamento temos a busca da terra, apoiados na certeza de uma promessa de Deus para o seu povo. Encontramos a sensibilidade de alguns que colaboraram com Deus, afim de promoverem a vida, de estar ao lado dos que mais necessitavam. Da mesma maneira, o mundo pós-moderno carece ser livre de uma escravidão secularista, neoliberal, individualista, que oprime a tantas pessoas, o que corrobora para a morte, esta é a realidade que enfrentamos hoje.

No Novo Testamento, a promessa que antes tivera sido anunciada ao longo do Antigo Testamento - que externava a libertação do povo -, se revela em Jesus de Nazaré. O que antes era Palavra, agora se torna carne, se torna pessoa como nós, exceto no pecado. Em Jesus encontramos a plenitude do amor. Um amor que foi capaz de vencer o mal e que desperta no coração dos seres humanos aquilo que eles ainda podem ser, quando abandonam o orgulho e se tornam obedientes ao cumprimento da verdadeira lei, uma lei que não está escrita em tábuas e nem em pedras, mas no coração, esta lei é o amor, que nos conduz a ter e a promover a vida em abundância. Quando entendemos e acolhemos o Reino de Deus, que nos fora relevado em Jesus de Nazaré, nossa vida é transfigurada e nos tornamos capazes - à luz de seus ensinamentos -, de iluminar toda a realidade humana. Nele conseguimos vencer o egoísmo, a indiferença, o desamor e principalmente a injustiça.

A Bíblia, ao logo do tempo, foi vista por muitas pessoas de maneira fundamentalista, ou seja, através de uma leitura “ao pé da letra”. Durante a história esse olhar errôneo causou um equívoco em relação a nossa imagem de Deus, tal consequência implicou num mal relacionamento entre Deus e a humanidade. Hoje, a Igreja com a ajuda das ciências humanas, de novos métodos de interpretação, colaboram na compreensão sobre quem é Deus e quem é o humano. Essa compreensão da identidade sobre quem é o homem e quem é Deus, restaura um relacionamento que foi desfigurado ao longo dos séculos, e recria a vida em nós e reergue um mundo novo.

Portanto, deixar-se mover por Deus através das Escrituras, contribui para o objetivo de todo ser humano, que é viver de maneira plena. Nele a humanidade é preenchida, encontra sentido e significado para sua existência, pois todo ser humano é vocacionado ao amor e fora do amor a realização é inexistente. Que escrevamos nossa história no amor e para o amor, tendo um estimado valor pela Bíblia, que nos ajuda na caminhada rumo a civilização do amor.


SOBRE A POLÍTICA

A política está presente dentro do contexto da formação da pólis, da sociedade, e possui uma dimensão organizacional, de buscar a ordem e o bem comum. Tem em sua essência a finalidade de propor um espaço melhor, onde os cidadãos possam viver bem.

A história da política vem de longa data, para Platão – filósofo grego, em sua obra “A República” – os que deveriam governar seriam os sábios, uma vez que estes abriam-se ao saber, sendo assim, a política deveria ser governada por alguns, uma vez que nem todos buscavam a verdade (através do bem, do belo e da justiça). Os sofistas, que tinham a arte de falar bem, cobravam para representar “seus clientes” ou para ensinar-lhes a arte da retórica, que consistia no convencimento sobre algo, por meio da contra-argumentação. Ao contrário, a filosofia platônica queria levar as pessoas a prática da justiça por meio da busca pela verdade, uma herança de seu mestre Sócrates, que dizia que os ignorantes não se conhecem, e por isso agem erroneamente.

Talvez o grande embate aqui esteja entre os objetivos: Para Platão e Aristóteles – a formação do homem consistia na busca pela verdade, pelo belo, pelo bem, pela justiça, pelos valores, por uma ética e moral para todos, apesar de se divergirem sobre alguns pensamentos. Os sofistas - pensavam que cada um deveria buscar a sua própria liberdade -. Para Protágoras, grande sofista, “o homem é a medida de todas as coisas”. Segundo JAEGER, “os sofistas são, com efeito, as individualidades mais representativas de uma época que na sua totalidade tende para o individualismo.”.1

Hannah Arendt, grande pensadora de nossa era contemporânea, ao falar de Aristóteles, citando um trecho do livro Ética a Nicômaco diz: “Ninguém escolheria viver sem amigos, ainda que possuísse todos os outros bens”.2Para Aristóteles, a amizade é mais elevada que a justiça, porque esta já não é necessária entre amigos”.3 Pensava ARENDT, que “esse tipo de compreensão – ver o mundo (como dizemos hoje corriqueiramente), do ponto de vista do outro – é uma percepção política por excelência.4

Conscientizar a humanidade, é o início para uma boa política, a política é positiva, quando há pessoas comprometidas, assim é capaz de produzir bons frutos para a sociedade, é por meio dela que conseguimos modificar nossas realidades. Se faz necessário em nossos dias um despertar para o “pensar”, pois nossa humanidade move-se através do “fazer sem pensar”, e isso implica em muitas consequências que são prejudiciais a todos nós.

A aprovação do projeto “ficha limpa”, foi uma demonstração de que quando pensamos juntos (revendo nossa realidade e fazendo uma crítica a ela), então agimos de maneira correta em vista do bem comum, no intuito de esperarmos candidatos que ao menos se preocupem com o povo e assim colaborem com nossas cidades, estados e com o nosso país.

Portanto, exercitar a arte do pensar-(ser), gera em nós mais do que um crescimento intelectual, pois ajuda-nos a viver um processo de alteridade, interação social, contribuindo para uma política onde todos sejam beneficiados e por uma sociedade mais responsável com o meio.

1JAEGER, Werner Wilhelm. Paidéia: A formação do homem grego. Tradução: Artur M.Parreira. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.347.

2ARENDT, Hannah. A Promessa da Política. Tradução: Pedro Jorgense Jr. Rio de Janeiro: Difel, 2008. p.59

3Ibidem, p.59

4Ibidem, p.60

quarta-feira, 28 de julho de 2010

DESCOBRINDO-SE ENQUANTO PESSOA NA RELIGIÃO



A descoberta de si nem sempre é algo fácil, exige esforço da parte de quem a procura, caminho muitas vezes difícil que implica dor, sofrimento para se chegar à descoberta que traz felicidade, alegria, realização. Por isso, “o amor só é amor se já provou alguma dor” já dizia Pe.Fábio de Melo em uma de suas canções.
Cristo para levar a cada um de nós a descoberta do amor que anunciara, sofreu em nosso lugar, “tendo Ele amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” Jo 13,1. A grande descoberta que nos é necessária é a de nos descobrirmos enquanto pessoas, pessoas que tem amor dentro de si, que possuem potencial para amar e também para receber amor.
Tudo o que fazemos na vida se não tiver em vista o amor, deixa de ser essência e se torna apenas aparência, representação. Paulo relata uma experiência profunda deste amor que experienciou em Cristo, “por amor a ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro” Rm 8,36. O amor exige luta, implica em rompimento com o efêmero, é vivencia que trás vida e que exclui o medo.
No livro do Gênesis encontramos uma citação onde diz “ambos estavam nus, o homem e sua mulher estavam nus, sem sentirem vergonha um do outro” Gn 2,23-25. Estavam livres, havia sinceridade entre eles, havia amor, havia unidade. Quando comem o fruto proibido, Adão tem medo de se mostrar a Deus em virtude de sua decisão que foi feita na escuridão, feita as escondidas, sem consultar a Deus que sempre se manifestou sincero a ele.
No mesmo livro encontramos Adão dizendo: “Ouvi a tua voz no meio do jardim, tive medo porque estava nu, e me escondi” Gn 3,10. A nudez não é o problema, mas o medo que é provocado quando não agimos com sinceridade em relação ao outro, no caso aqui Adão em relação a Deus.
Durante muito tempo carregamos uma ideia errônea de que Deus nos castiga, que Ele nos condena, que Ele nos persegue, que está disposto a nos condenar sempre pelos nossos desacertos. Na verdade as culpas que carregamos em virtude de acontecimentos conscientes ou não, nos fragilizam, e como não queremos assumir, “aceitar” tais ocorridos, nos responsabilizar pela nossa vida, projetamos em Deus o papel do juiz castigador, quando na verdade o que ocorre é que não nos aceitamos, pois não somos sinceros – não ficamos nus – diante de nós mesmos, e então sofremos.
Aqui entra o papel da religião, de apresentar Deus de fato como Ele é – amor -, um Deus solidário, que sempre está disposto a se reconciliar com o ser humano. Em Lc 19,9 Jesus diz a Zaqueu: “hoje a salvação entrou em sua casa”. Em Lc 7,47 Jesus diz a pecadora “teus inúmeros pecados te são perdoados, porque tem demonstrado muito amor”.
Jesus é apresentado pelos evangelistas como subversivo em relação aos doutos e sábios da época, é contrário a toda hipocrisia que a religião da época - atrelada a sistema econômico -, que oprimia e excluía os menos favorecidos. Jesus entra neste contexto e retira os fardos que colocaram sobre estas pessoas, faz reviver naqueles que encontra a vida que estava sufocada por um sistema que matava. E diz em um de seus diálogos proclama: “Em verdade vos digo, os coletores de impostos e as prostitutas vos precederão no Reino de Deus” Mt 21,31, e o Reino de Deus consiste em justiça, amor, paz, fraternidade. Não é que Jesus faz apologia ao pecado, mas vai ao encontro do pecador que necessita do amor, pelo amor é que ocorre a conversão, e somente pelo amor que é possível dar sentido a existência humana.
Portanto, o descobrimento de si e o contato com a religião tende a nos levar a uma sinceridade conosco, com o próximo e com Deus, caso contrário viveremos presos a efemeridades e aparências, que não colaboram para o descobrimento de nossa essencialidade, mas apenas nos aprisiona, nas palavras de Paulo “a letra mata, mas o Espírito vivifica” II Cor 3,6. É momento de repensarmos nossa história, e dar espaço para que o amor encontre em nós o seu lugar. É tempo de reviver, tempo de amar.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A FACE DE DEUS NA HUMANIDADE



Deus que é pai criou-nos em seu amor para o amor, e não deseja outra coisa que não seja nossa felicidade e nossa realização.
Deus derramou a priori sobre a humanidade sua graça, fomos criados na graça de Deus, em harmonia com Ele. Como pai, desejou ardentemente em seu coração que o ser humano vivesse com Ele (em comunhão) e não distante dele.
Mas infelizmente o ser humano preferiu o poder ao amor, quis caminhar sozinho por meio de suas escolhas, de sua liberdade, achou que era capaz de dar passos sem necessitar daquele que o havia criado com tanto amor. Essa opção gerou para nossa humanidade aquilo que chamamos de pecado original, que consiste no distanciamento do Pai e de seu projeto de amor, e distante do Criador, a humanidade sofre o caos provocado por suas próprias escolhas.
O interessante é que não é Deus que se aparta de nós, mas em nossa livre escolha, preferimos escolher por certos caminhos, e nestas escolhas sofremos, porque não queremos ouvir aquele que é amor pleno, optamos em nos deixar conduzir pelo orgulho e pela auto-suficiência.
Estas escolhas implicam diretamente no poder, poder no sentido de não querer precisar do Criador, que leva-nos a perder-nos no tempo, na vida, na história. Querer caminhar longe do amor leva-nos a vivenciar o desamor, o não amor. E não há vida fora do amor. A morte (corpo – emoção – espiritual) vai aos poucos ocorrendo em virtude da sede e da fome que o ser humano tem do amor, mas que rejeitando a ajuda daquele que é pai, leva-o a um processo de esfacelamento do ser, perda de sentido e de significado no tempo. Longe do amor só temos a perder.
Existe tanta fome no mundo, tanta injustiça, tanto ódio, tantas pessoas morrendo às margens da sociedade, e a explicação que encontramos diante de tais fatos apontam para uma carência que o ser humano possui do amor. Nascemos do amor e para o amor, a não vivência deste amor, distancia o homem dos valores axiológicos que estão presentes em seu coração, fecha-o a voz de Deus, e assim as leis que não estão em tábuas ou em pedras, mas escritas no coração, deixam de ser seguidas.
A revelação de Jesus na história foi à própria manifestação do amor do Pai a cada um de nós, Jesus se fez um de nós a fim de assumir nossa condição humana, exceto no pecado (falta de amor – não escuta do Pai), mesmo diante das dificuldades que a vida impõe a cada um de nós, não se deixou conduzir pelo poder dos homens, mas pelo amor e pela misericórdia, foi capaz de superar a maldade dos homens, que tem seu fundamento no poder, na ambição, no egoísmo.
Jesus foi um homem tão humano e ao mesmo tempo tão divino. Esteve ao lado daqueles que mais necessitavam de seu amor, esteve com os pecadores, com os excluídos, com as mulheres que na época eram excluídas, com o cobrador de impostos, com os fariseus. Ele foi à luz que clareou a escuridão que a própria humanidade causou quando escolheu viver longe do amor de Deus, vida dos seres humanos. As sombras foram vencidas por Jesus de Nazaré. Um amor tão profundo do Pai pela humanidade, que o próprio Filho em unidade com o Pai nos revelou em amor e por amor, um amor iluminador que reluziu em toda pessoa humana, assim pra sempre a história foi perpassada pela manifestação do sagrado. Infelizmente, Jesus foi rejeitado por aqueles que não aceitaram sua luz, e então pela maldade dos homens, presos ao poder e as leis (perpassadas por interesses egoístas), levaram a cruz o Senhor da vida, mataram assim a lei maior, o próprio amor encarnado.
Mas Jesus foi capaz de vencer a maldade dos homens, foi vitorioso, por meio de sua encarnação, os corações foram verdadeiramente despertos do sono letárgico que a humanidade havia adentrado, e por ele um novo caminho a humanidade conheceu. O próprio amor divino relevado aos homens (em profunda oração e unidade com o Pai) foi traduzido em gestos concretos, instaurou o Reino de Deus, que consiste no amor e no serviço.
A cruz não foi o fim, não foi o definitivo, mas por meio dela Jesus conquistou a liberdade e o amor para toda humanidade (estabeleceu a aliança que havíamos perdido com o Pai), sendo Ele inocente, se solidarizou conosco. Assim, o crucificado é o ressuscitado, exaltado pelo Pai, ele é o amor pleno, a salvação da humanidade. Ele é o próprio amor, e somos convidados a seguí-lo. Jesus demonstrou ao ser humano que este também é capaz de superar o mal, a medida que configura seu coração ao dele, e esta configuração leva a atitudes traduzidas na própria vida.
Portanto, permitamos que o Verbo que se fez carne adentre nosso coração, a Palavra quando lida, meditada e encarnada é capaz de nos tornar novos seres humanos, não mais conduzidos pelo poder dos homens, mas pelo amor do Pai, que se manifesta em nós por meio da ação do Espírito Santo. Todos os que se deixam conduzir pelo amor do Pai e do Filho por meio do Espírito Santo se tornam homens novos, mulheres novas. Conduzidos por tal amor somos capazes de cotidianamente superar o mal, de vencer as desigualdades sociais, de vencer as crises contemporâneas que enfrentamos e assim ver a face de Deus na humanidade, não uma face esfacelada pela maldade dos homens, mas uma face gloriosa ressurgida por meio daqueles que ouvem a voz de Deus e que por ela se deixam conduzir, assim que o amor seja nossa única lei, que substituamos o poder pelo amor, a mentira pela verdade e o medo pela liberdade que brota da fé no Cristo
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sexta-feira, 2 de julho de 2010

COPA 2010 – BRASIL CAMPEÃO - SOBRE GANHAR E PERDER


A vida é feita de uma luta constante, e a cada momento enfrentamos novos desafios, e neste enfrentamento nem sempre saímos vitoriosos, ora vencemos e ora perdemos.

Durante a nossa história talvez fomos “mal educados” ou nos passaram a ilusão de que sempre precisaríamos vencer, assim fomos sufocando uma outra dimensão da vida que é que a perda, que nem sempre é perda mesmo. Uma árvore que cresceu, um dia foi uma semente, que precisou “perder-se” para se transformar em árvore.

A vida também é assim, aparentemente uma vitória talvez é a coisa mais almejada, desejada, mas a derrota nem sempre é por nós pensada, mas a partir da realidade que ela nos trás, quando tomamos consciência que as coisas não saíram como imaginamos, então vamos descobrindo o seu valor. Imaginemos as tantas quedas que tivemos na vida enquanto bebês ou as quedas de bicicleta, quando aprendíamos a andar, não eram quedas desejadas, porém nos levaram a uma experiência positiva que hoje podemos contemplar.

Nossa seleção brasileira, juntamente com seu treinador Dunga e seus jogadores, também acabam de passar por isto, lutaram, jogavam, tentaram, mas infelizmente as coisas não saíram como o sonhado. O que temos agora é a insatisfação de um público que foi influenciado por tantas propagandas, que nos induziam a pensar que a vitória já era nossa. Enquanto o time ia bem, havia apoio, existia garra, depois que foi desclassificado, parece permanecer um sentimento de abandono. Antes do jogo, muitos torcedores, após a derrota, ninguém para consolar. Nossa vida não é muito diferente desse acontecimento, enquanto ganhamos, apoiamos e quando nos vem o fracasso, então desistimos.
Portanto, saibamos refletir melhor sobre os acontecimentos, nem sempre a derrota é derrota, mas pode se tornar vitoriosa quando valorizamos os esforços que ocorreram durante o processo da competição. E ganhar nem sempre é ganhar, por vezes valorizamos o que foi conquistado, mas não nos atentamos a perceber o empenho que houve para se chegar a vitória. Assim, se valorizarmos em nosso cotidiano as pequenas tentativas de sermos melhores, no sentido de compreender os esforços que fazemos cotidianamente, aprenderemos a descobrir e valorizar os ganhos e as perdas, e então nos tornaremos justos diante da vida e das pessoas que nos cercam, caminhando desta maneira, caminhamos na compreensão do amor que sustenta nossa existência humana.

Parabéns Dunga, parabéns seleção brasileira.

terça-feira, 11 de maio de 2010

RECONCILIANDO COM A VIDA


A vida caminha em torno de uma unidade. Quando nascemos começamos a integrar o mundo, pertencemos a uma família; ao crescermos vamos estabelecendo laços de amizade, de namoro, de matrimônio, enfim, a vida vai se formando por meio de elos. Durante esse processo vamos percebendo o quanto os elos se tornam importantes em nossa história, e que fazer o processo inverso de desunir, nos torna desconexos dela.

Acredito que em determinado momento da vida, passamos por situações de união ou desunião. Por vezes, somos nós que distanciamos, em outras, sofremos o distanciamento. Quem que não passou por uma situação constrangedora, em que, diante dessa, mesmo sabendo que a pessoa tinha condições de resolver a mesma, não a resolveu, e também quantas vezes deixamos de resolver aquelas que estavam dentro de nossas possibilidades.

Diante disso, observamos que em muitos casos somos causadores de desuniões, de rompimento, quando poderíamos ser motivo de unidade. Talvez, inconscientemente fomos movidos a agir daquela maneira, mas isso não nos exime de refletirmos que precisamos tomar consciência sobre nossas atitudes, e que mudar se faz necessário. Para além de um moralismo, o que nos cabe pensar aqui é que podemos ser significativos e dar sentido a tantas situações, propiciando unidade em muitos momentos, estabelecendo pontes, sendo amigo, ao invés de nos mantermos distantes e isolados.

Portanto, vivamos a cada segundo, com a certeza de que é possível reconciliar-nos sempre; conosco, com as pessoas, com o mundo. Permitamos que as intuições presentes em nosso coração dirijam nossa existência , conduzindo-a a se tornar mais próxima, mais presente na vida das pessoas. Isso de fato nos permite viver no tempo, e não apenas passar por ele sem ter experimentado o sentido e o significado que a unidade nos propõe. Sejamos reparadores!

sábado, 8 de maio de 2010

DIA DAS MÃES


Mãe, sua grandeza se compara ao universo.


Seu amor, à imensidão das águas dos mares


Sua ternura aos mais confortáveis tecidos


Mãe, sua presença em minha vida é inesquecível.


Seu amor, insubstituível.


Não há nada neste mundo tão grande como o seu amor.


Tão belo é este amor, que é comparado à ternura de Deus.


Neste seu dia, eu só quero lhe dizer: “eu te amo” e “muito obrigado”.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A PROFUNDIDADE DO AMOR


É interessante pensarmos sobre nossa atual cultura, em que vemos palavras e atitudes sendo traduzidas como amor. Afinal o que é o amor? Renato Russo na canção “Monte Castelo”, utilizando-se da primeira carta de Paulo aos Coríntios e de Camões, e escreve em uma das estrofes: “Estou acordado, e todos dormem, todos dormem, todos dormem. Agora vejo em parte, mas então veremos face a face. É só o amor, é só o amor, que conhece o que é verdade...”.

De fato, é só o amor que conhece a verdade. No grego encontramos o amor em três dimensões: enquanto eros, philia e agape. Eros é o amor que desperta desejo, atração, “envolvimento carnal”. Philia um amor proveniente da amizade e Agape o amor paternal. Todo ser humano tende a passar por estas fases, em nossa contemporaneidade o que percebemos é que as pessoas ainda não compreenderam o sentido do amor e suas dimensões.

Uma vez que este amor não é por nós compreendido, nos perdemos em nossos sentimentos, temos “medo de amar”, pois não tendo conhecimento dele, fica difícil vivenciá-lo. Acredito que a maturidade do ser humano vai chegando a medida em que ele se descobriu e se compreendeu nestas três dimensões. Freud compreendeu magnificamente a força que a libido exerce sobre nós por meio das pulsões, em seus estudos encontra o eros já presente na sexualidade infantil, ao se referir às repressões sexuais e ao complexo de Édipo e acrescentamos aqui as experiências vividas ao longo da história. Amor philia, Santo Agostinho faz referência a seus amigos, o quão estes eram importantes em sua vida, enquanto partilhavam suas vidas e na resolução de questões que esse pensava. O amor enquanto agape utilizamos como exemplo o encontrado no cristianismo, na figura de Deus como Pai, aquele que possui um amor incondicional por seus filhos. Conforme nos narra o evangelista Lucas ,na passagem do filho pródigo, esse pega a parte da herança que lhe cabia e gasta irresponsavelmente, quando se arrepende e retorna para casa, é acolhido pelo Pai, que não o culpa, nem o pune, mas apenas o ama e o acolhe novamente.

Adentrar as profundezas do amor é permitir-se descobrir e também abrir-se ao outro, é processo de alteridade constante, o outro nos revela. À medida que vamos deixando cair às resistências e os equívocos que nos foram introjetados ao longo a vida, vamos nos afastando da efemeridade e vamos abraçando a essencialidade, em busca da verdade que é o amor.

Portanto, a cada momento é tempo de se descobrir, de se dar à oportunidade para amar e ser amado, somos seres dotados de sentido, e só o amor pode dar sentido a vida humana. Deixe-se perpassar pelo amor. Na canção “O sol da meia noite” da banda Rosa de Saron, encontramos uma belíssima estrofe que nos fala: “É estranho e difícil te dizer que está tudo bem. Se há alguma coisa, então venha entender. O quanto só você pode dar um simples passo de cada vez. O sol da meia-noite aqui existe. Você pense, pare. Veja que o amor resiste. Olhe, prova, sente, toca”. O ser humano nasceu do amor e para o amor, retire as resistências, amar é respeitar-se, é respeitar o outro, é tornar-se e também tornar o outro feliz . "Ama e fazes o que quiseres" Santo Agostinho.

terça-feira, 4 de maio de 2010

SOBRE ADENTRAR A VIDA DE ALGUÉM E DEPOIS PERMANECER



A realidade humana é muito profunda, as vezes não conseguimos alcançá-la, facilmente vivemos distantes dela, e é daí que provém o motivo de tantas incompreensões.

Quando adentramos a vida de alguém, a priori procuramos demonstrar aquilo que “temos de bom”, procuramos impressionar, fazer com que as pessoas se encantem por nós, queremos ser aceitos, compreendidos, amados.

Depois que o relacionamento se solidifica, então todo aquele esforço que fizemos para esconder os nossos limites – aquilo que não temos de tão bom assim –, começa vir à tona, e então sentimos um grande medo, melhor dizendo, entramos numa batalha interior, em que não sabemos se aquele vínculo que criamos inicialmente vai continuar a perdurar ou se as pessoas deixarão de “nos querer” pelo fato de terem descoberto uma outra parte em nós que havíamos escondido.

A vida relacional se resume assim, somos seres de relacionamentos, a todo momento nos relacionamos, somos filhos, somos amigos, somos namorados, somos esposos. A vida é feita de vínculos. Descobrir a grandeza de se viver é não ter medo de se mostrar do jeito que se é, os verdadeiros relacionamentos são aqueles em que somos aceitos em nossa totalidade – com nossas virtudes e também com nossos limites –.

Portanto, eis aqui uma reflexão que precisamos constantemente mergulhar, tanto na aceitação do outro, como na aceitação de si, pois amamos sinceramente quando não diluímos a vida em elementos bons e ruins, mas aprendemos a acolher o ser humano em seu todo, que implica finitude, incompletude, e ser inacabado. Assim, reconhecendo o que somos, nos tornamos mais leves e também retiramos os fardos que colocamos sobre os outros e sobre nós mesmos. Torne-se livre.

domingo, 2 de maio de 2010

UMA BREVE ANÁLISE FILOSÓFICA EXISTENCIAL DE NARUTO UZUMAKI


O desenho animado Naruto tem atraído muitos fãs (me incluo entre eles), toda essa fama deve-se a magnífica forma em que o personagem é demonstrado, sua sinceridade, seu amor pelas pessoas e por sempre acreditar em seus sonhos.

Naruto pertence à Vila Oculta da Folha, sua trajetória começa a ser narrada quando o pai Yondaime - quarto Hokage (o ninja mais forte) –, dá a sua vida para salvar a aldeia onde moram, na luta contra um terrível monstro, e então aprisiona a raposa de nove caudas (Kyuubi) dentro do filho. Quando Naruto perde o controle de suas emoções, esta toma conta de seu ser, e quando consegue controlar suas emoções então é capaz de controlar a raposa.

Não tenho aqui o objetivo de detalhar o percurso de Naruto até se tornar um grande ninja, mas me deter à pessoa do personagem Naruto. Pelo fato dos pais terem morrido e ficado só, ele foi criado na vila, mas sempre olhado de uma maneira indiferente pelas outras crianças, todos comentavam secretamente: ele tem a raposa de nove caudas dentro dele; sempre foi discriminado pelos outros, cresceu sem a atenção e o amor dos pais.

Naruto foi crescendo e vivenciando o desprezo das pessoas, na escola preparatória para ninja, procurou sempre aprontar para chamar a atenção, até que é reconhecido por Iruka (seu professor) e mais tarde por seus amigos de equipe: Sasuke e Sakura e por seu mestre: Kakashi, dentre outros, como Jiraya e Tsunade, que viram nele um garoto especial: sonhador e cheio de amor.

O fato é que mesmo diante de todas as rejeições que passou durante a infância, mesmo as outras crianças tendo-o rejeitado, Naruto acredita nas pessoas e tem um sonho de se tornar um Hokage (o ninja mais forte – que protege as pessoas de sua aldeia –). As pessoas que cruzam a vida de Naruto vão sendo preenchidas pela esperança que ele possui, e por receberem dele confiança, são conduzidas a uma transformação de vida.

Chegamos ao ponto em que inicio uma breve reflexão. Naruto, mesmo tendo passado por tantas dificuldades e críticas, apesar das pessoas não terem acreditado nele, ele não se rendeu a essas situações, mas acreditou em seus sonhos, acreditou nas pessoas. Naruto teria todos os motivos para não acreditar nas pessoas, uma vez que temos a tendência a repetirmos aquilo que nos fizeram, romper este ciclo significa superação, e é o que ele faz a todo o momento, se superando em seus treinos, tornando-se forte e acima de tudo, amando as pessoas ao seu redor.

Percebemos nos episódios o quanto Naruto acredita naqueles que ele encontra, o quanto é capaz de querer dar a sua vida para resgatar aqueles que se tornaram significativos em sua vida, isso faz com que outros acreditem nele, e é por isso que ele se tornará um grande Hokage. Mesmo tendo a raposa de nove caudas dentro de si, sua força em busca do bem, do amor, é capaz de vencer as limitações que a Kyuubi talvez lhe imponha.

Em nossa vida também é assim, nossas realidades não são diferentes da de Naruto, lutamos cotidianamente, o tempo e seus acidentais, com sua finitude, nos estabelece limites, e somos atraídos por estes, e acabamos muitas vezes escolhendo pelo mal ou deixando que nossos momentos de raiva, de tristeza sejam maiores que a força do bem e do amor existentes em nós.

Portanto, como Uzumaki Naruto, façamos uma análise filosófica existencial em nossa vida, olhando para dentro de nós e saibamos acreditar em nossos sonhos, nas pessoas que passam ao nosso lado. E sendo conduzidos por este amor que habita nosso interior, aprendamos como nosso grande herói a superar o mal (Kyuubi), transformando essa força negativa em positiva, capaz de nos ajudar a nos tornarmos mais humanos, mais bondosos e a não desistir de nossos sonhos, e também dos sonhos das pessoas. Se torne um Hokage você também! Seja uma pessoa capaz de promover o bem! E então vivenciarás o amor. Seja Feliz!

sábado, 24 de abril de 2010

AFINAL, É POSSÍVEL ENCONTRAR A FELICIDADE?

Como foi descrito nas postagens que antecedem esta, para se chegar à vida feliz é necessário percorrer um caminho alicerçado em alguns pilares como: conhecimento, relacionamento, amor, liberdade e o tempo.

O verdadeiro engano na vida é nos acomodarmos frente às situações que nos cercam, permitindo que percamos nosso significado no mundo. O mundo é lugar da realização do ser humano, local onde a vida acontece, temos como desejo da alma a felicidade e é tarefa nossa nos esforçarmos para que esta realidade aconteça.

Ao longo de toda a história da filosofia, em seus diversos períodos, os filósofos buscaram a compreensão acerca do mundo, seja por meio de um método racionalista-idealista, seja por meio do empirismo e suas disputas com a metafísica. Todas estas áreas da filosofia são de grande importância para a humanidade e para o ser humano, mas de nada serviriam se não existissem pessoas que a fizessem de maneira feliz.

As melhores realizações que podemos obter na vida, são frutos de um empenhar-se bem, de estarmos bem para desenvolvermos e criarmos. Portanto, se buscarmos a vida feliz, estaremos buscando nossa realização, nos encontrando, seremos capazes de nos relacionarmos de forma mais verdadeira.

Afinal, se buscar a felicidade é buscar a verdade (a alma), então podemos dizer que ser feliz é vivermos de forma autêntica e real, e que quanto mais buscarmos a compreensão da alma, estaremos cada vez mais nos desprendendo do mundo enquanto cárcere, e estaremos cada vez mais vivendo no mundo enquanto lugar que nos revela, lugar que nos devolve à alma. Heidegger fala da necessidade do homem em buscar o ser e viver uma vida ontológica, desvalorizando o caráter utilitarista da vida, conforme a razão instrumental nos propõe já no início do século XX.

Seremos capazes de compreender o mundo a partir do momento em que formos capazes de sermos nós mesmos, quando nos respeitamos enquanto seres que têm a capacidade de entendimento, de pensar, de tomar decisões, de sentir, e só podemos ser assim quando nos sentirmos livres.

Esta construção do verdadeiro homem é possível na medida em que este toma a coragem de mudar, de ir além, sair da estagnação que o comodismo o coloca e alçar vôos para aquilo que realmente deseja. Esta busca pela alma o torna livre capaz de ser e de viver o que deseja. Esta realidade compreendida e entendida faz com que tenha realização; é a fuga do ilusório e a chegada à realidade.

“Eu procuro por mim, tal qual o artesão procura sua arte escondida nos excessos da matéria bruta de seu mármore” (MELO, 2007, p.150).


REFERÊNCIA


MELO, Fábio de. Quem me roubou de mim. São Paulo: Canção Nova, 2007. 150 p.


FELICIDADE, DESEJO A PRIORI DA ALMA

Percorridos todos os caminhos propostos, chegamos ao objetivo de nosso trabalho e também a máxima de todo ser humano, a felicidade. Levando em consideração que para se chegar aqui o ser humano precisa contemplar as diversas fases da existência humana: o conhecer, o relacionar, a liberdade, o amor, o tempo e, enfim, chegar à realização da vida feliz que ocorre quando a alma, estando livre das prisões do mundo, é capaz de viver nele como lugar que a revela pelos objetos e pelas pessoas que participam deste relacionar-se.

Ser feliz não é uma utopia, mas uma realidade que pode ser vivenciada. Diante desta possibilidade ARENDT (1997, p. 67) nos acrescenta:

A vida feliz não é rememorada como puro passado, que enquanto tal não a nada obriga a vida factual; ao contrário, ela é, enquanto passado rememorado, uma possibilidade do futuro (tal como, nos momentos de tristeza, nos recordamos da alegria a partir da experiência que se teve como um possível que pode ser reencontrado em momentos actuais de tristeza).


Com o passar do tempo, a humanidade passou por grandes transformações, principalmente com o advento da tecnologia e das ciências.

De certa forma, todos estes avanços ocorridos ao longo da história, trouxeram, sim, muitas inovações, contribuíram de várias maneiras para o desenvolvimento do mundo, mas não podemos negar o fato de que nunca em toda a humanidade o ser humano se sentiu tão fortemente abalado como em nossa era contemporânea.

Segundo HABIGZANG, L.F. CADAVIZ, A.L. (2008), vemos:


A contemporaneidade nos suscita a pensar a força do tempo. O ritmo vertiginoso dos grandes centros urbanos, o processo de virtualização com os computadores e as redes digitais, a incessante oferta de imagens na mídia (atuando na produção dos desejos), são apenas algumas das mutações em curso que caracterizam a implosão do espaço-tempo. Até que ponto estamos acompanhando essa aceleração, nos adaptando, agilizando nosso pensamento? Quais são os sintomas que essa cultura produz em nossa subjetividade? (SESSÃO Nômade. Espaço Vida, Porto Alegre, abril 1997, n2). Verifica-se as marcas da carência, da angústia provocada pela desterritorialização, da melancolia. Já, no século passado, ao tentar compreender a depressão, Freud (1895) postulou uma relação entre perda objetal e a melancolia. Ele sugeriu que a raiva do paciente deprimido é dirigida para seu íntimo, em razão de identificação com o objeto perdido. (in: Birman, 1999).

A partir de toda essa descaracterização do ser humano em virtude das novas tecnologias, do desenvolvimento, é possível compreender claramente que a vida feliz só é possível quando o ser humano não está aprisionado, mas em sua liberdade de ser, utiliza-se da tecnologia para sua realização no mundo, como lugar da revelação para sua liberdade e felicidade.

Durante toda a sua vida, Santo Agostinho também vivenciou acontecimentos semelhantes ao do homem contemporâneo, mas em características próprias da época. Ele que durante muito tempo esteve aprisionado no mundo, vivendo para o mundo e não para si, sofreu o desespero e a angústia que o conduziram ao despertar para a alma, fazendo com que Agostinho conhecesse a si mesmo, compreendesse e se relacionasse com o mundo, alcançando por meio da liberdade, do tempo e do amor, a transcendência da alma, a vida feliz. Na citação a seguir, é possível compreender acontecimentos que permeiam para além do tempo e que estão presentes na condição humana, “[...] todo o plano, tão bem construído, se desvaneceu entre nossas mãos, fez-se em pedaços e teve de ser abandonado.” (AGOSTINHO, 2007, p.137).

Viver é relacionar-se e para se chegar à vida feliz é preciso permitir que a vida seja lapidada pelos acontecimentos, não se prendendo a eles, mas permitindo que nos ajudem no processo de revelação e compreensão do mundo. A vida vai se tornando bela, quando somos capazes de ver além, ver a essencialidade das coisas e não nos prendermos às superficialidades.

O próprio Agostinho (2007, p.232) nos ensina:

Encontrei muitos que gostam de enganar, mas ninguém que quisesse ser enganado. Onde, então, conheceram a felicidade, senão onde conheceram a verdade? Visto que não querem ser enganados, também amam a verdade, e desde que amam a felicidade, que nada mais é que alegria, proveniente da verdade, certamente também amam a verdade; e não a amariam se não retivessem dela, na sua memória, alguma noção. Por que, então, não se alegram com ela? Por que não são felizes? Porque se empolgam demais com outras coisas, que as tornam mais infelizes do que a verdade, de que se recordam fracamente, e que os faria felizes.


Uma coisa é certa, neste desejo de conhecer, de buscar, temos a nossa realização quando descobrimos que encontramos a verdade; em outras palavras, quando não nos sentimos enganados, temos a certeza daquilo que procuramos.

A felicidade é justamente isso: retirar as máscaras das ilusões, das representações que foram criadas pelo falsos relacionamentos com os objetos e com as pessoas e nos revestirmos do que é verdadeiro, daquilo que não nos engana e que conduz nossa alma à felicidade.

Esta realidade é possível de ser contemplada por meio do entendimento. Apenas o ser humano possui essa faculdade de entender e, por meio desta, ter a clareza do que é verdadeiro e do que realmente pode conduzir à vida feliz, visto que os sentidos nos enganam, nos fazem viver uma ilusão, assim como os sonhos, mas o entendimento nos conduz à verdade sobre nós mesmos. Sobre isso SCHOPENHAUER (2007, p.18) nos diz:

A primeira manifestação do entendimento, aquele que se exerce sempre, é a intuição do mundo real; ora, este ato do pensamento consiste unicamente em conhecer o efeito pela causa: deste modo toda intuição é intelectual. Mas ela nunca chegaria a realizar-se sem o conhecimento imediato de algum efeito capaz de servir de ponto de partida.


Desta maneira, os efeitos, aquilo que é superficial, é apenas um condutor para a essencialidade, é como olharmos alguém que está chorando e por meio do choro sermos movidos a buscarmos realmente o que proporcionou o choro. E, a partir daí, encontrarmos a causa presente na alma. Por meio do entendimento seremos capazes de compreender.

A vida feliz ocorre justamente assim, no relacionar com mundo, não se prendendo ao efêmero, ao que nos engana e seduz. Na contemporaneidade, as luzes nos ofuscam: são tantas ofertas, tantos produtos, tantas facilidades, mas por meio desses efeitos tão sedutores, precisamos nos questionar a respeito de suas essencialidades. Talvez seja por isso que a arte e a estética nos fascinam tanto, pois se apresentam como são, enquanto as futilidades da vida, os encantos da modernidade, apresentam uma beleza superficial, mas que ao entrarmos em contato, descobrimos o vazio e a inutilidade.

Buscar a vida feliz é justamente se prender à essencialidade e não à futilidade, pois esta não acrescenta algo a mais em nossa existência, pelo contrário, retira o que ela possui de significativo, ao contrário da essencialidade que nos preenche, acrescenta à alma. E neste processo de retorno ao ser, esta decisão (passagem) é capaz de nos angustiar, mas de nos conduzir à essencialidade, segundo HEIDEGGER (1999 p.56-57):

Na angústia ― dizemos nós – “a gente sente-se estranho. O que suscita tal estranheza e quem é por ela afetado? Não podemos dizer diante de que a gente se sente estranho. A gente se sente totalmente assim. Todas as coisas e nós mesmos afundamo-nos numa indiferença. Isso, entretanto, não no sentido de um simples desaparecer, mas em se afastando elas se voltam para nós. Este afastar-se do ente em sua totalidade, que nos assedia na angústia, nos oprime. Não resta nenhum apoio. Só resta e nos sobrevém ― na fuga do ente – este “nenhum”. A angústia manifesta o nada. “Estamos suspenso” na angústia. Melhor dito: a angústia nos suspende porque ela põe em fuga o ente em sua totalidade. Nisto consiste o fato de nós próprios ― os homens que somos ― refugiarmo-nos no seio dos entes. É por isso que, em última análise, não sou “eu” ou não és “tu” que te sentes estranho, mas a gente se sente assim. Somente continua presente o puro ser-aí no estremecimento deste estar suspenso onde nada há em que apoiar-se.


Assim, o percurso para a vida feliz é um caminho consciente, real e verdadeiro que não está alicerçado em efemeridades, mas em essencialidades, e que é algo possível de ser atingindo e conquistado, sendo necessário apenas uma coisa: o desejo verdadeiro de buscar a alma.


REFERÊNCIAS


AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução: Alex Marins. São Paulo: Editora Martin Claret, 2007. 432 p.

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Tradução: M.F. Sá Correia. 1. Ed. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2007. 431 p.

ARENDT, HANNAH. O conceito do amor em Santo Agostinho. Tradução: Alberto Pereira Dinis. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. 189 p.


HEIDEGGER, Martin.
Coleção - Os pensadores. Tradução: Ernildo Stein. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999. 304 p.

HABIGZANG, Luísa Fernanda;CADAVIZ, Ana Letícia. A Cultura contemporânea e a produção do sintoma depressão. Disponível em: <http://www.geocities.com/instituinte/luisaculturadepressao.htm> Acesso em: 20 out. 2008.