terça-feira, 21 de setembro de 2010

A MISSÃO DO SER HUMANO: DESCOBRIR-SE

O ser humano é um ser inacabado, que mediante a própria existência vai se edificando, escreve sua própria história, e almeja por sua felicidade.

O pessoa humana é relacional, somos seres de relação, precisamos do outro (alteridade) na construção da nossa personalidade, mas não podemos permitir que nossa história seja apenas sobre outro, fazendo-nos perder a identidade, as vezes faz-se necessário tomar as rédeas da própria vida neste processo de descobrimento. Para o filósofo Sêneca, “é preciso atentar para não seguir tal como ovelha o rebanho à frente porque, não sabendo para onde ir, vai para onde as outras se dirigem. Realmente, nada mais pernicioso que se adequar à opinião pública, tendo por mais acertado o que é consensual. Como atestam numerosos exemplos, acontece findar vivendo não de acordo com a razão e, sim, imitando aos outros1.

Há em nós uma procura pela verdade, queremos ir além das nossas realidades, é um desejo. No pano de fundo, buscamos a vida e nos afastamos da morte. Em nosso cotidiano nos deparamos com situações que ora nos vivificam e ora nos matam. Segundo Hannah, “o bem ao qual o amor aspira é a vida, e o mal que o medo afasta é a morte. A vida feliz é a vida que não pode ser perdida2.

O Conhecer-se dá-se a partir do momento em que permitimos que o amor inunde a realidade do nosso ser, levando-nos a compreender o que somos em nossa singularidade e na compreensão do que o outro é, amando o ser humano em sua totalidade (limites e virtudes), essa aceitação torna-nos compreensíveis. Arendt diz que “o amor ao próximo é, pois a realização concreta da relação retrospectiva para além do mundo, e, ao mesmo tempo, empurra o outro para fora do mundo, para que ele veja o sentido do seu ser. Como sugere a identidade entre ser e ser eterno, ele ama o outro não como alguém que vai morrer (moriturus) mas ama nele aquilo que é eterno, a sua origem apropriada3.

Quando o amor vai se desvelando em nosso existir, eis que contemplamos o que somos na mais pura intimidade e interioridade, e somos conduzidos à verdade acerca de nós mesmos. Santo Agostinho assim descreve: “Talvez por amarem a verdade de tal modo que tudo de diferente que amam, querem que seja verdade, e, não admitindo ser enganados, também não querem ser convencidos de seu erro. Desse modo, detestam a verdade por amarem aquilo que tomam pela verdade”4.

Portanto, sejamos missionários a adentrarmos o mais profundo do nosso interior, para assim descobrirmos as insondáveis riquezas do nosso ser, encontraremos lá a força necessária para nortear nossa existência, levando-nos a reconciliar e unir, com o outro e com o mundo. Viver é descobrir-se.

1SÊNECA. A vida Feliz. Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal – 43. Tradução: Luiz Feracine. São Paulo: Editora Escala, 2006. p.32

2 ARENDT, HANNAH. O Conceito de Amor em Santo Agostinho. Lisboa: Editora Piaget, 1997. p. 19

3 Ibid., p.117

4SANTO AGOSTINHO. Confissões. Tradução: Alex Marins. São Paulo: Martin Claret. 2007. p.233

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode expressar aqui sua opinião sobre o post. Logo em seguida, ele será enviado para aprovação. Agradeço a visita!