quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Desafios de uma Nova Evangelização

Pe.Jesus Aguiar

Com o decorrer do tempo nós cristãos deixamos que o Kerígma – primeiro anúncio sobre Jesus (Amor de Deus, Pecado e Salvação, Senhorio de Jesus, Vinda do Espírito Santo, Fé, Comunidade, Maria), fosse se esfriando dentro de nós. A ausência desse amor de Deus anunciado e experienciado causa-nos um vazio em nosso sentido existencial. Vemos hoje em nossa sociedade, escolas, jovens, famílias a perda do sentido transcendental, que é responsável por elevar o ser humano ao núcleo mais profundo de seu próprio ser.
Em nossas famílias muitos conceitos deformados foram entrando, e isso gera dúvidas, incertezas e inseguranças. Quando falamos de Jesus Cristo, estamos falando do amor eterno que se Revelou entre nós e nos possibilitou encontrar o melhor de nós mesmo, a encontrar sentido no mundo a partir da luz que o Senhor nos concede.
Encontramos na família muitas realidades desafiadoras, novas estruturas foram-se formando ao longo do tempo, e nenhuma está excluída da família de Cristo, mas convidadas a serem formadas e iluminadas por Ele, para que encontrem sentido.
Precisamos nos afinar pela dimensão Kerigmática, apresentar Jesus afim de que Ele se torne conhecido, e fazemos isso a partir da missão. Missão é executar uma tarefa, nesse sentido somos convidados a levar as pessoas a conhecerem esse homem-Deus que nos trouxe a salvação.
Precisamos estar atentos a realidade do nosso tempo, enquanto membros da Igreja nos abrir para acolher e sairmos em missão. Crescemos pela força do amor. Nossos argumentos e testemunhos são de suma importância para esta missão. Para isso dispomos da liturgia, da catequese, pastorais e movimentos, que são meios para irmos ao encontro das pessoas e das pessoas virem até Deus. Só pelo fato de sairmos em missão, já somos transformados por ela.
Encontramos diversos grupos a serem evangelizados, fiéis participantes da Igreja, os que receberam os sacramentos e não fizeram uma experiência com Jesus, e outros que não o conheceram. Dessa forma, precisamos ter paciência nessa missão de evangelizar, para que haja frutos e num momento posterior festejarmos a alegria de apresentar o Senhor que nos salva.
São muitos os que se encontram nas periferias existenciais e geográficas, daí a importância de um crescimento humano sustentado no amor de Deus através do Kerígma. Quando falamos em catequizar, falamos de uma interação com a vida, tendo a Bíblia como livro referencial.
Como mudar? Do pessoal para o coletivo, ou do coletivo para o pessoal? Precisamos dialogar entre esses dois polos, não existe cristianismo sem comunidade, daí a importância de nos organizarmos em pequenos encontros, pequenas comunidades. Talvez precisamos reduzir nossos excessos e trabalhos e priorizar as essencialidades de cada realidade, e valorizarmos a importância da motivação e da alegria fraterna.
Não podemos racionalizar o Kerígma, que é uma experiência do amor de Deus, e não uma explicação sobre essa experiência. Para isso nos dispomos da mistagogia (introduzir a pessoa ao Mistério de Deus), e do desafio de uma nova linguagem, para que o Amor de Deus Revelado em Jesus Cristo chegue aos corações. O encontro com Cristo ocorre na Palavra, nos sacramentos, nas pessoas. Muitos de nossos cansaços se referem a busca incansável e isolada por nós mesmos, faz-se assim necessário um exame de consciência para nos corrigirmos. Isso inclui uma unidade eclesial, clérigos e leigos. O Testemunho concreto de Deus em nós, é uma fonte de transmissão de valores em nossa sociedade atual.
Nosso desafio enquanto cristãos é tornar Jesus conhecido, e isso se dá por meio do (encontro, kerígma e da missão). Nesse sentido, Cristologia (estudo sobre Cristo) e eclesiologia (estudo sobre a Igreja) se encontram, através da alteridade (Encarnação do Filho de Deus) e da gratuidade (Mistério Pascal – paixão, morte e ressurreição do Senhor). Jesus é aquele que faz a vontade do Pai, Ele é a realização do Reino de Deus. Cristo se deixa encontrar, mas da nossa parte temos que buscá-lo, através da nossa inteligência e vontade. A Nova Evangelização consiste aí, numa experiência de fé que é a experiência de Encontro com Cristo. No Primeiro Testamento, Israel fez a experiência de ouvir o Senhor, no Segundo Testamento, através da Encarnação do Verbo, vimos o Senhor.
Assim, é importante entendermos o Evangelho e os Sacramentos, no primeiro Deus nos fala, no segundo Deus faz através da Igreja. Há importância muito grande em estabelecermos uma coerência entre a Eucaristia e os Sofredores. Isso nos impulsiona a nos encontrarmos e oferecermos a capacidade do encontro com os outros. Nossas formações precisam estar pautadas no Kerígma, daí entendemos a importância do Encontro com Cristo, esse desejo, essa atração no Mistério Redentor, pois é uma forma de compreendermos a nossa missão enquanto batizados que é levarmos Cristo ao outro. O anúncio do Senhor que nos transforma é centralidade na iniciação à Vida Cristã, porque nos leva a aderir àquilo que Jesus nos apresenta, isso desperta o desejo de o encontrarmos, de sermos conduzidos por sua Palavra, e nos motiva à leitura orante e a vivermos em comunidade, motivando-nos ao serviço dos que sofrem.
A experiência da missão nos leva a sermos fascinados pelo Senhor, conhecer e optar pelo Cristo, a buscar pela verdade contida em cada ser humano através da fé pessoal que envolve a inteligência. As escolas de animação bíblica, são caminhos para oferecerem esse caminho de conhecimento da Palavra. Nas pequenas comunidades, são lugares propícios para reflexões, assim entendemos que o Evangelho da vida é o centro da vida de Jesus e também o nosso.
Enfim, a espiritualidade é o motor que nos motiva a essa nova evangelização. Não podemos nos prender a ideia de buscar resultados imediatos, mas precisamos semear, e não ter a pretensão de atingir a todos, sem obsessão quantitativa, mas qualitativa. Abandone-se no Senhor!



Texto elaborado de anotações da formação para o Clero na cidade de Lins/SP, na Chácara dos irmãos do Sagrado Coração nos dias 01/09 e 02/09. Palestra ministrada pelo Monsenhor Antônio Luiz Catelan Ferreira, assessor da Comissão para Doutrina da fé da CNBB, sobre a Exortação Apostólica do Papa Francisco, Evangelii Gaudium e sobre o documento 102 da CNBB, sobre as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2015-2019.