Autores:
Jesus de Aguiar Silva1
Vânia Dantas2
Olhamos o mundo a nossa volta e
descobrimos que vivemos uma constantemente relação de
interdependência com tudo o que existe, e certamente percebemos que
nossas maiores intersecções se referem à vida humana. A influência
do outro em nossa vida, e também nossa influência naqueles que nos
são próximos permite-nos pensar: aonde está a essencialidade da
vida humana? Escondida em nosso ser ou desvelada? Por vezes,
mediante aos fardos que nos são impostos, permanecemos longe de
tudo, em nosso mais profundo interior, mas quando encontramos mãos
que nos acolhem, palavras que nos elevam, nosso coração entra em
consonância com a bondade emanada e então nos sentimos seguros, e
então somos capazes de armar nossa tenda e ali depositar tudo o que
trazemos em nossa bagagem.
Certamente buscamos um solo seguro,
para podermos firmar nossas raízes, e ali permitirmos que nossa
força vital – eros – aconteça de maneira a
nos fazer transcender, a nos elevar, a permitir que nosso intelecto
releve a nossa mais profunda condição: sermos humanos. Essa força
quando se estabelece é capaz de lançar fora tudo o que provém da
falsa ilusão da vida que nos leva a morte – thanatos –.
A expressividade consigo e para os outros alcança seu ápice quando
encontramos um recíproco doar-se. Quando há essa entrega no sentido
mais profundo de se visar o bem alheio, então contemplamos a
dignidade humana. Assim, enxergamos sem aprisionar, aprendemos a
proporcionar liberdade, conseguimos assistir ao espetáculo que é o
outro com suas escolhas e tormentos, nos quais nem sempre podemos
influir, pois cada um tem sua estrada. Conviver com o outro sem
torná-lo bode expiatório de todas as nossas mazelas é, sem dúvida,
o grande desafio para as relações.
O poeta Renato Russo tinha razão
quando escreveu em uma de suas canções: “Não quero lembrar, que
eu erro também”. O medo de se deparar com nossa realidade que
ainda não foi modificada causa-nos angústia. E assim, os seres
humanos, pela falta de coragem de se verem, acabam se acomodando, e
com medo de mudar suas realidades, preferem convencer que os outros e
o mundo estão errados, à iniciativa de sua própria mudança. De
novo, Renato: “Todos se afastam quando o mundo está errado/ quando
o que temos é um catálogo de erros/ quando precisamos de carinho,
força e cuidado.”
Encontrar a beleza de ser e de viver
talvez estejam no diálogo sincero consigo mesmo, ter a coragem de se
criticar, no intuito de buscar uma obra escondida tal qual faz o
artista. Essa atitude nos permite retirar nossos excessos como o que
é tirado da pedra bruta, e assim conseguimos olhar a nós e a
humanidade com um olhar mais estético, vendo a beleza escondida e
prefigurada na pessoa alheia.
Portanto, ser e viver conjugam-se à
medida que retiramos o medo e damos lugar à liberdade; a história é
o grande espaço onde temos a oportunidade de nos desvelarmos ou de
nos fecharmos. Ser humano é conscientizar-se de que a perfeição
não existe, o que há são esforços que fazemos mediante nossas
escolhas sobre aquilo que é bom mediante nossos juízos, mas
lembremo-nos de que o grande critério que deve nos nortear é a
vida, uma vez que o ser humano, por mais que não queira, está
fadado à morte, e o seu olhar sobre a vida é que dá sentido e
esperança à sua existência.
1Graduado
em Informática – Universidade de Lins, graduado em Filosofia –
Centro Universitário Claretiano, graduando em Teologia –
Faculdade Dehoniana -, pós-graduando em Filosofia Clínica –
Instituto Packter -.
2Mestre
em História Social – Universidade Federal de Uberlândia - UFU,
Especialista em Filosofia Clínica - Instituto Packter, Licenciada
em Filosofia – UFU. E-mail: vaniamor@hotmail.com.