domingo, 30 de outubro de 2011

A importância da meditação



O silêncio é o caminho para ouvirmos e entendermos algo. Nosso existir em Deus tem “peso imenso e eterno” II cor 4,17.


A Palavra que Deus nos dirige tem como lugar de acolhimento o nosso coração. Para que possamos contemplá-la, precisamos nos esvaziar de nossa vontade autônoma e nos dirigirmos ao encontro da profundeza do amor de Deus, que sempre age desinteressadamente.


Neste contexto, Deus acolhe nosso vazio e o preenche com sua própria dádiva, seu amor. Em nosso abandono, nos deparamos com Jesus Cristo, que é Palavra definitiva de Deus. Neste meditar utilizamos de nossos sentidos e imaginação, expressando nosso crer e assim abrindo-nos para o divino.


No Mistério Pascal (paixão, morte e ressurreição), vemos em Jesus esta pessoa incomparável – Homem e Deus ao mesmo tempo -, que é sempre uno e indivisível. Nas Bem-Aventuranças, iluminou seus discípulos de maneira definitiva, correspondendo a eles em seus anseios mais profundos conforme a Antiga Aliança anunciava “os pobres de Javé”.


Na Cruz, expressou a extrema pobreza de espírito, mas por ele fomos convidados a não pararmos na cruz, mas a olharmos o amor supremo consumado, nele recebemos a “Revelação”, o “bem aventurado”.


A bem aventurança de Jesus tem seu ápice em seu aniquilar-se, tornando-se dessa forma, espaço vital em prol de todos os homens. Esse era o seu modo de pensar.


Portanto, Cristo assim exprimiu o ideal a ser seguido, o ideal que ele mesmo é, e o ideal que Deus é como Uno e Trino. Dessa maneira, que através da meditação saibamos nos abandonar e encontrar a Cristo que nos conduz ao Pai.





Reflexão feita a partir do livro:


BALTHASAR, Hans Urs Von. Meditar como cristãos. Tradução: Pe. Clóvis Bovo, C.Ss.R. Aparecida-SP: Santuário. p.18-29.


Um bom livro para quem quer se aprofundar na meditação (oração).



Como lidar com o mal?



Anselm Grün nos apresenta uma classificação básica nominada pelos antigos monges, em que temos três forças em nossa alma: nous (espírito) aos anjos, Thymos aos demônios, Epithymia (desejo) aos homens.


Partindo da classificação elencada pelos monges, estes descrevem que Thymos (demônios) exercem sua influência sobre os homens através do ódio, da inveja e principalmente através da ira. Diziam eles que o ar é a região onde os demônios também são encontrados.


Para eles, a fantasia é o ponto de contato para os maus pensamentos, ocorre ali uma luta de nossos próprios pensamentos, exclusivamente quando estes estão carregados de paixão e emoção.


Demônios são capazes de dominar um homem (como descrevemos acima), de forma que ele se torne um possesso. Segundo os monges, os demônios podem conduzir os homens a doenças psíquicas: esquizofrenia, epilepsia, loucura e histeria, alguns impelidos ao suicídio.


Para Jung estas eram tentativas de explicar os fenômenos, para o psicólogo, a causa central estaria na projeção, que impede o ser humano de ver a realidade com tal. Segundo ele, os complexos nos levam a agir compulsivamente e adquirirem certa autonomia.


Muitas vezes tais complexos alcançam o domínio sobre o eu. Através do complexo da alma – repressões de ordem moral ou estética, excluídos da convivência -, por meio do complexo de espírito – conteúdos do inconsciente coletivo que penetram nossa consciência -. Geralmente tais complexos e afetos modificam-se em complexos autônomos.


Logo, lidar com os demônios é procurar exteriorizá-los de nosso inconsciente, afim de defender-nos contra eles, sobretudo no âmbito dos afetos e emoções.




Reflexão feita a partir do livro:



GRÜN, Anselm. Convivendo com o mal - A luta contra os demônios no monaquismo antigo. Petrópolis-RJ: Vozes, 2010. p. 17-24.



Recomendo a leitura, um excelente livro!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Oração como terapia, libertação do ser


A primeira linguagem pela qual Deus se comunica a nós é o silêncio. O ser humano tem a necessidade de descansar na presença de Deus.

A oração é o caminho para este relacionamento entre Deus e o homem, assim quando falamos em oração centralizadora, estamos falando sobre um exercício de intenção, em que por meio de uma palavra sagrada (exemplo: Terço da Misericórdia – Pela vossa dolorosa paixão... Tende misericórdia de nós e do mundo inteiro) expressamos nossa intenção de experienciar Deus dentro de nosso interior via contemplação.

Tal caminho leva-nos a uma decisão, opção, direcionamento de nossa vontade em vista do amor divino que não é sentimento. Na oração nos permitimos aceitar a ação divina em nossa vida. Quando nossa vontade é direcionada a espiritualidade, vamos adquirindo o hábito de submissão a presente ação de Deus em nossa alma.

A oração atua de forma terapêutica, levando-nos a uma libertação do sentimento de ser indigno do amor, tendo em vista que há uma necessidade em nosso ser de amar e ser amado, uma vez que nascemos do amor e para o amor. A palavra sagrada que utilizamos para oração, serve para nos ajudar a focalizar nossa intenção. No momento oracional fazemos uma viagem e aí somos libertos de nossas fixações e reconfigurados em nossas emoção (força que nos move), por vezes recalcadas em nosso inconsciente.

Logo, quando vamos tomando consciência geral da presença de Deus junto a nós, confiando a Ele nossa vida, através de nossa oração de simplicidade (como o agir da criança), somos de fatos purificados em todo o nosso interior e assim estabelecemos uma harmonia entre Deus, a alma e o próximo.

Embusca de si mesmo


Santa Teresa em seu livro Castelo Interior, faz a analogia que nossa alma é um castelo e esta possui muitos aposentos e moradas.

O universo interior, que é a nossa alma, muita vezes é por nós abandonado, e para adentrá-lo necessário nos é a oração, porta de entrada do castelo. Por vezes, nossa inteligência se acha capaz de compreender a Deus, quando não é. Santo Agostinho certa vez escreveu “se Deus fosse possível de ser compreendido deixaria de ser Deus”, pois caberia em nossa simples razão. Não nos esqueçamos de que há uma grande diferença em o Criador e a criatura, pela bondade de Deus fomos criados a sua imagem, e é a partir daí que nós tentamos dizer o indizível.

Sobre as riquezas existentes na alma pouco sabemos, dentro deste castelo interior ocorrem coisas secretas entre Deus e a alma. Para que possamos experienciar as provas do amor de Deus, a nós oferecidas, se faz necessário a fé (crer). Santo Agostinho em suas confissões nos relata: “Tu estavas dentro de mim, e eu Te procurava fora, onde me precipitava sobre as belas coisas da terra, tuas obras”. Assim, é possível dizer que existem maneiras diferentes de estar num mesmo lugar, há almas que estão distantes (em coisas exteriores), mas lembremos que a entrada para o castelo interior é a oração e meditação de maneira reflexiva.

Em vista disso, aproximemo-nos de nós mesmos, da alma, é lá se dará o ponto de encontro (Deus e o ser humano), é neste relacionar que o ser humano se descobre enquanto pessoa no mundo, caso contrário perde-se-ia a identidade, fazendo com que a vida fosse simplesmente uma caminhada sem sentido e significado.

Ser livre e conduzido pelo amor


Ao escrever que (Deus há de ser amado), São Bernardo nos lança justamente um questionamento muito profundo, o amor a si e o amor a Deus. Coloca-nos numa perspectiva de que a caridade é a chave de libertação do ser humano de forma integral.

O santo nos apresenta que muitas vezes buscamos um amor (de nós mesmos – narcísico), e não o amor por ele mesmo, deixando transparecer que a condição humana busca confiar em si mesma (busca o que é bom para si), quando deveria confiar em Deus, especificamente na pessoa do Filho que é caridade revelada.

Quando o ser humano é movido por esta caridade proveniente de Deus, as almas se convertem, tornam-se livres para fazer o bem. A caridade (o amor) é tão grandiosa que não guarda nada de si, é doação sempre. Deus vive uma Lei, e esta é a caridade, de substância divina, porque dEle provém, e é eterna, e por meio dela é que o universo foi criado.

O ser humano se torna escravo a medida que vive apenas por sua própria lei, e esta o leva a viver apenas para si (egoísmo) e não para o outro (altruísmo).

Santo Agostinho em seu livro De civitate Dei descreve: “Dois amores fundaram duas cidades, a saber, o amor próprio levado ao desprezo de Deus, a terrena; o amor de Deus levado ao desprezo de si próprio, a celestial. Uma gloria-se em si mesma, a outra em Deus. Aquela busca a glória dos homens, e esta tem por máxima glória de Deus, testemunha de sua consciência”.

Portanto, cabe-nos pensar que o ser humano conduzido pela Lei de Deus é capaz de tornar-se bom e também a humanidade, uma bondade de não provém justamente de si, mas de Deus, e quando fecha-se em si mesmo, negando o amor de Deus, torna-se árido, sem vida, contribuindo para que o mal se levante mediante a carência do bem que do amor procede.