quarta-feira, 28 de julho de 2010

DESCOBRINDO-SE ENQUANTO PESSOA NA RELIGIÃO



A descoberta de si nem sempre é algo fácil, exige esforço da parte de quem a procura, caminho muitas vezes difícil que implica dor, sofrimento para se chegar à descoberta que traz felicidade, alegria, realização. Por isso, “o amor só é amor se já provou alguma dor” já dizia Pe.Fábio de Melo em uma de suas canções.
Cristo para levar a cada um de nós a descoberta do amor que anunciara, sofreu em nosso lugar, “tendo Ele amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” Jo 13,1. A grande descoberta que nos é necessária é a de nos descobrirmos enquanto pessoas, pessoas que tem amor dentro de si, que possuem potencial para amar e também para receber amor.
Tudo o que fazemos na vida se não tiver em vista o amor, deixa de ser essência e se torna apenas aparência, representação. Paulo relata uma experiência profunda deste amor que experienciou em Cristo, “por amor a ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro” Rm 8,36. O amor exige luta, implica em rompimento com o efêmero, é vivencia que trás vida e que exclui o medo.
No livro do Gênesis encontramos uma citação onde diz “ambos estavam nus, o homem e sua mulher estavam nus, sem sentirem vergonha um do outro” Gn 2,23-25. Estavam livres, havia sinceridade entre eles, havia amor, havia unidade. Quando comem o fruto proibido, Adão tem medo de se mostrar a Deus em virtude de sua decisão que foi feita na escuridão, feita as escondidas, sem consultar a Deus que sempre se manifestou sincero a ele.
No mesmo livro encontramos Adão dizendo: “Ouvi a tua voz no meio do jardim, tive medo porque estava nu, e me escondi” Gn 3,10. A nudez não é o problema, mas o medo que é provocado quando não agimos com sinceridade em relação ao outro, no caso aqui Adão em relação a Deus.
Durante muito tempo carregamos uma ideia errônea de que Deus nos castiga, que Ele nos condena, que Ele nos persegue, que está disposto a nos condenar sempre pelos nossos desacertos. Na verdade as culpas que carregamos em virtude de acontecimentos conscientes ou não, nos fragilizam, e como não queremos assumir, “aceitar” tais ocorridos, nos responsabilizar pela nossa vida, projetamos em Deus o papel do juiz castigador, quando na verdade o que ocorre é que não nos aceitamos, pois não somos sinceros – não ficamos nus – diante de nós mesmos, e então sofremos.
Aqui entra o papel da religião, de apresentar Deus de fato como Ele é – amor -, um Deus solidário, que sempre está disposto a se reconciliar com o ser humano. Em Lc 19,9 Jesus diz a Zaqueu: “hoje a salvação entrou em sua casa”. Em Lc 7,47 Jesus diz a pecadora “teus inúmeros pecados te são perdoados, porque tem demonstrado muito amor”.
Jesus é apresentado pelos evangelistas como subversivo em relação aos doutos e sábios da época, é contrário a toda hipocrisia que a religião da época - atrelada a sistema econômico -, que oprimia e excluía os menos favorecidos. Jesus entra neste contexto e retira os fardos que colocaram sobre estas pessoas, faz reviver naqueles que encontra a vida que estava sufocada por um sistema que matava. E diz em um de seus diálogos proclama: “Em verdade vos digo, os coletores de impostos e as prostitutas vos precederão no Reino de Deus” Mt 21,31, e o Reino de Deus consiste em justiça, amor, paz, fraternidade. Não é que Jesus faz apologia ao pecado, mas vai ao encontro do pecador que necessita do amor, pelo amor é que ocorre a conversão, e somente pelo amor que é possível dar sentido a existência humana.
Portanto, o descobrimento de si e o contato com a religião tende a nos levar a uma sinceridade conosco, com o próximo e com Deus, caso contrário viveremos presos a efemeridades e aparências, que não colaboram para o descobrimento de nossa essencialidade, mas apenas nos aprisiona, nas palavras de Paulo “a letra mata, mas o Espírito vivifica” II Cor 3,6. É momento de repensarmos nossa história, e dar espaço para que o amor encontre em nós o seu lugar. É tempo de reviver, tempo de amar.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A FACE DE DEUS NA HUMANIDADE



Deus que é pai criou-nos em seu amor para o amor, e não deseja outra coisa que não seja nossa felicidade e nossa realização.
Deus derramou a priori sobre a humanidade sua graça, fomos criados na graça de Deus, em harmonia com Ele. Como pai, desejou ardentemente em seu coração que o ser humano vivesse com Ele (em comunhão) e não distante dele.
Mas infelizmente o ser humano preferiu o poder ao amor, quis caminhar sozinho por meio de suas escolhas, de sua liberdade, achou que era capaz de dar passos sem necessitar daquele que o havia criado com tanto amor. Essa opção gerou para nossa humanidade aquilo que chamamos de pecado original, que consiste no distanciamento do Pai e de seu projeto de amor, e distante do Criador, a humanidade sofre o caos provocado por suas próprias escolhas.
O interessante é que não é Deus que se aparta de nós, mas em nossa livre escolha, preferimos escolher por certos caminhos, e nestas escolhas sofremos, porque não queremos ouvir aquele que é amor pleno, optamos em nos deixar conduzir pelo orgulho e pela auto-suficiência.
Estas escolhas implicam diretamente no poder, poder no sentido de não querer precisar do Criador, que leva-nos a perder-nos no tempo, na vida, na história. Querer caminhar longe do amor leva-nos a vivenciar o desamor, o não amor. E não há vida fora do amor. A morte (corpo – emoção – espiritual) vai aos poucos ocorrendo em virtude da sede e da fome que o ser humano tem do amor, mas que rejeitando a ajuda daquele que é pai, leva-o a um processo de esfacelamento do ser, perda de sentido e de significado no tempo. Longe do amor só temos a perder.
Existe tanta fome no mundo, tanta injustiça, tanto ódio, tantas pessoas morrendo às margens da sociedade, e a explicação que encontramos diante de tais fatos apontam para uma carência que o ser humano possui do amor. Nascemos do amor e para o amor, a não vivência deste amor, distancia o homem dos valores axiológicos que estão presentes em seu coração, fecha-o a voz de Deus, e assim as leis que não estão em tábuas ou em pedras, mas escritas no coração, deixam de ser seguidas.
A revelação de Jesus na história foi à própria manifestação do amor do Pai a cada um de nós, Jesus se fez um de nós a fim de assumir nossa condição humana, exceto no pecado (falta de amor – não escuta do Pai), mesmo diante das dificuldades que a vida impõe a cada um de nós, não se deixou conduzir pelo poder dos homens, mas pelo amor e pela misericórdia, foi capaz de superar a maldade dos homens, que tem seu fundamento no poder, na ambição, no egoísmo.
Jesus foi um homem tão humano e ao mesmo tempo tão divino. Esteve ao lado daqueles que mais necessitavam de seu amor, esteve com os pecadores, com os excluídos, com as mulheres que na época eram excluídas, com o cobrador de impostos, com os fariseus. Ele foi à luz que clareou a escuridão que a própria humanidade causou quando escolheu viver longe do amor de Deus, vida dos seres humanos. As sombras foram vencidas por Jesus de Nazaré. Um amor tão profundo do Pai pela humanidade, que o próprio Filho em unidade com o Pai nos revelou em amor e por amor, um amor iluminador que reluziu em toda pessoa humana, assim pra sempre a história foi perpassada pela manifestação do sagrado. Infelizmente, Jesus foi rejeitado por aqueles que não aceitaram sua luz, e então pela maldade dos homens, presos ao poder e as leis (perpassadas por interesses egoístas), levaram a cruz o Senhor da vida, mataram assim a lei maior, o próprio amor encarnado.
Mas Jesus foi capaz de vencer a maldade dos homens, foi vitorioso, por meio de sua encarnação, os corações foram verdadeiramente despertos do sono letárgico que a humanidade havia adentrado, e por ele um novo caminho a humanidade conheceu. O próprio amor divino relevado aos homens (em profunda oração e unidade com o Pai) foi traduzido em gestos concretos, instaurou o Reino de Deus, que consiste no amor e no serviço.
A cruz não foi o fim, não foi o definitivo, mas por meio dela Jesus conquistou a liberdade e o amor para toda humanidade (estabeleceu a aliança que havíamos perdido com o Pai), sendo Ele inocente, se solidarizou conosco. Assim, o crucificado é o ressuscitado, exaltado pelo Pai, ele é o amor pleno, a salvação da humanidade. Ele é o próprio amor, e somos convidados a seguí-lo. Jesus demonstrou ao ser humano que este também é capaz de superar o mal, a medida que configura seu coração ao dele, e esta configuração leva a atitudes traduzidas na própria vida.
Portanto, permitamos que o Verbo que se fez carne adentre nosso coração, a Palavra quando lida, meditada e encarnada é capaz de nos tornar novos seres humanos, não mais conduzidos pelo poder dos homens, mas pelo amor do Pai, que se manifesta em nós por meio da ação do Espírito Santo. Todos os que se deixam conduzir pelo amor do Pai e do Filho por meio do Espírito Santo se tornam homens novos, mulheres novas. Conduzidos por tal amor somos capazes de cotidianamente superar o mal, de vencer as desigualdades sociais, de vencer as crises contemporâneas que enfrentamos e assim ver a face de Deus na humanidade, não uma face esfacelada pela maldade dos homens, mas uma face gloriosa ressurgida por meio daqueles que ouvem a voz de Deus e que por ela se deixam conduzir, assim que o amor seja nossa única lei, que substituamos o poder pelo amor, a mentira pela verdade e o medo pela liberdade que brota da fé no Cristo
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sexta-feira, 2 de julho de 2010

COPA 2010 – BRASIL CAMPEÃO - SOBRE GANHAR E PERDER


A vida é feita de uma luta constante, e a cada momento enfrentamos novos desafios, e neste enfrentamento nem sempre saímos vitoriosos, ora vencemos e ora perdemos.

Durante a nossa história talvez fomos “mal educados” ou nos passaram a ilusão de que sempre precisaríamos vencer, assim fomos sufocando uma outra dimensão da vida que é que a perda, que nem sempre é perda mesmo. Uma árvore que cresceu, um dia foi uma semente, que precisou “perder-se” para se transformar em árvore.

A vida também é assim, aparentemente uma vitória talvez é a coisa mais almejada, desejada, mas a derrota nem sempre é por nós pensada, mas a partir da realidade que ela nos trás, quando tomamos consciência que as coisas não saíram como imaginamos, então vamos descobrindo o seu valor. Imaginemos as tantas quedas que tivemos na vida enquanto bebês ou as quedas de bicicleta, quando aprendíamos a andar, não eram quedas desejadas, porém nos levaram a uma experiência positiva que hoje podemos contemplar.

Nossa seleção brasileira, juntamente com seu treinador Dunga e seus jogadores, também acabam de passar por isto, lutaram, jogavam, tentaram, mas infelizmente as coisas não saíram como o sonhado. O que temos agora é a insatisfação de um público que foi influenciado por tantas propagandas, que nos induziam a pensar que a vitória já era nossa. Enquanto o time ia bem, havia apoio, existia garra, depois que foi desclassificado, parece permanecer um sentimento de abandono. Antes do jogo, muitos torcedores, após a derrota, ninguém para consolar. Nossa vida não é muito diferente desse acontecimento, enquanto ganhamos, apoiamos e quando nos vem o fracasso, então desistimos.
Portanto, saibamos refletir melhor sobre os acontecimentos, nem sempre a derrota é derrota, mas pode se tornar vitoriosa quando valorizamos os esforços que ocorreram durante o processo da competição. E ganhar nem sempre é ganhar, por vezes valorizamos o que foi conquistado, mas não nos atentamos a perceber o empenho que houve para se chegar a vitória. Assim, se valorizarmos em nosso cotidiano as pequenas tentativas de sermos melhores, no sentido de compreender os esforços que fazemos cotidianamente, aprenderemos a descobrir e valorizar os ganhos e as perdas, e então nos tornaremos justos diante da vida e das pessoas que nos cercam, caminhando desta maneira, caminhamos na compreensão do amor que sustenta nossa existência humana.

Parabéns Dunga, parabéns seleção brasileira.