sábado, 24 de abril de 2010

O PROCESSO DO CONHECIMENTO

Pelo processo do conhecimento, o homem vai desvendando o mundo ao qual pertence. Já nos primeiros anos de vida, o bebê começa a se descobrir enquanto pessoa num lugar em que ele precisa aprender a conviver, ou seja, conviver com o outro, recebendo, assim, os primeiros afetos, as primeiras palavras, recebendo o alimento. Com o passar do tempo, à criança vai se desenvolvendo, e por meio de tudo que lhe foi transmitido e por aquilo que ela aprendeu através da observação, de suas experiências, vai construindo o seu conhecimento acerca do mundo e das coisas. De acordo com SAYEGH (2008), encontramos:

Piaget aprovou a construção individual como singular e diferente, embora comumente ligada e próxima daquela da cultura, com isso a criança tem a chance de errar e construir. Vai ocorrendo períodos de desequilibração para uma nova sustentação de bases. Sabemos que muitos indivíduos estão estacionados em algumas etapas de desenvolvimento e isso é refletido no dia-a dia, com um jeito particular de pensar.


Neste processo ao qual estamos inseridos em sociedade, somos influenciados em nosso pensamento, em nossas atitudes e todos esses acontecimentos nos fazem conhecer de fato quem somos, quem o outro é e nos permite ir conhecendo, aos poucos, o mundo em que vivemos.

Essas relações em que ora nos realizamos, ora nos decepcionamos, vão construindo o que de fatos somos, o que de fato está presente em nós. A partir daí, nosso pensar e agir se baseiam em situações vivenciadas que nos permitem ter a idéia do que realmente acreditamos ser, algo que nos faça bem ou mal.

Através destas construções que se interpõem na nossa história, vamos vivenciando a vida, descobrindo nossa natureza humana, permeada pelos acidentais do tempo que nos levam de fato ao conhecimento; desta forma, conhecer é viver.

“O que conheço dele pelo sentido – se é que pelos sentidos se conhece alguma coisa – é de pouco valor e é o bastante. Porém, quanto àquela parte pela qual ele é meu amigo, isto é, a alma, desejo atingi-la pelo entendimento” (AGOSTINHO, 1998, p.24).

De acordo com Agostinho (1998), os sentidos nos revelam que, de alguma maneira, eles nos levam ao conhecimento de algo, pois vivendo neste tempo, vamos nos conhecendo, nos descobrindo e descobrindo o outro, e neste processo, o homem reconhece algo que está além do físico e do exterior, o voltar-se a si mesmo.

Nas palavras de Sócrates “conhece-te a ti mesmo”, este se conhecer se dá, primeiramente, pelas experiências vividas fora da alma como um alerta e nos desperta a conhecer-nos interiormente. A própria vida de Agostinho, e a nossa própria vida, é uma demonstração de que o ser deseja conhecer, deseja se descobrir, mas não deseja ficar na superficialidade dos sentidos, ele deseja ir além, transcender o mundo que se lhe aparenta real. “Antes, gostava de me desculpar, acusando a não sei que ser estranho que estava em mim, mas que não era eu. Na verdade, eu era tudo aquilo, embora minha impiedade me tivesse dividido contra mim mesmo.“ (AGOSTINHO, 2007, p.111).

A maneira com que a superficialidade nos faz enxergar a nós mesmos, nos desloca de nossa busca pelo conhecer. Uma vez que estas superficialidades ocupam nosso tempo, o qual poderia ser utilizado em busca da causa nobre (conhecer), acabamos sendo rendidos e, então, nos tornamos desconhecidos de nós mesmos.

Não mais nos reconhecemos, não mais nos enxergamos, passamos a nos ver a partir do que os óculos da superficialidade nos fazem enxergar e assim, a alma, que é o nosso verdadeiro desejo de conhecimento, se turva diante do olhar e somos capazes de nada entender. Essas transformações decorrentes na sociedade que implicam na vida do ser humano, nos permitem analisar que “A relativização do mundo engloba cada ser particular, desde que ele se «contemple», a partir do objecto desejado, com mundo exterior a si mesmo” (ARENDT, 1997, p.41)

Partindo da suposição de que os sentidos, de certa forma, permitem-nos conhecer, mesmo que estes nos conduzam a um universo de superficialidades - nos afastando quando em excesso - da busca pela alma, podemos enxergar pelo viés dos sentimentos o que de fato eles podem realizar em nós. “Gostando do amor buscava o que amar, e odiava a segurança e os caminhos sem perigos” (AGOSTINHO, 2007, p.63).

Os sentidos têm este poder de nos desestabilizar, de nos retirar da ordem, nos conduzindo aos perigos, e o principal deles é o distanciamento do que somos (alma), é como se abandonássemos as nossas seguranças e desejássemos viver de forma insegura e desacreditada. “Pois sem ordem, quase não há confiabilidade na felicidade” (AGOSTINHO, 1998, p.46)

Pois acreditar em si é justamente ter consciência do que se é. O avesso disso é não querer olhar e caminhar sem uma direção, sem rumo, sem sentido e sem significado algum, desfigurando-se do que se é realmente.

O processo do conhecimento está intimamente ligado ao universo dos significados, pois a partir do momento em que vamos conhecendo as coisas e as pessoas, atribuímos-lhes significados e nesta atribuição não podemos nos esquecer do que somos e de que o que é significativo não é maior do que aquele que atribui os significados.


REFERÊNCIAS


AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução: Alex Marins. São Paulo: Editora Martin Claret, 2007. 432 p.

AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e A Vida Feliz. Tradução: Adaury Fiorotti, Nair de Assis Oliveira. 2. Ed. São Paulo: Paulus Editora, 1998. 157 p.

ARENDT, HANNAH. O conceito do amor em Santo Agostinho. Tradução: Alberto Pereira Dinis. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. 189 p.

SAYEGH, Flávia. As relações entre desenvolvimento e aprendizagem para Piaget e Vygotsky. Disponível em: <http://www.profala.com/artpsico60.htm> Acesso em: 30/10/2008.


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