Pe.Jesus
Aguiar
Com o decorrer do tempo nós cristãos deixamos que o Kerígma –
primeiro anúncio sobre Jesus (Amor de Deus, Pecado e Salvação,
Senhorio de Jesus, Vinda do Espírito Santo, Fé, Comunidade, Maria),
fosse se esfriando dentro de nós. A ausência desse amor de Deus
anunciado e experienciado causa-nos um vazio em nosso sentido
existencial. Vemos hoje em nossa sociedade, escolas, jovens, famílias
a perda do sentido transcendental, que é responsável por elevar o
ser humano ao núcleo mais profundo de seu próprio ser.
Em nossas famílias muitos conceitos deformados foram entrando, e
isso gera dúvidas, incertezas e inseguranças. Quando falamos de
Jesus Cristo, estamos falando do amor eterno que se Revelou entre
nós e nos possibilitou encontrar o melhor de nós mesmo, a encontrar
sentido no mundo a partir da luz que o Senhor nos concede.
Encontramos na família muitas realidades desafiadoras, novas
estruturas foram-se formando ao longo do tempo, e nenhuma está
excluída da família de Cristo, mas convidadas a serem formadas e
iluminadas por Ele, para que encontrem sentido.
Precisamos nos afinar pela dimensão Kerigmática, apresentar Jesus
afim de que Ele se torne conhecido, e fazemos isso a partir da
missão. Missão é executar uma tarefa, nesse sentido somos
convidados a levar as pessoas a conhecerem esse homem-Deus que nos
trouxe a salvação.
Precisamos estar atentos a realidade do nosso tempo, enquanto
membros da Igreja nos abrir para acolher e sairmos em missão.
Crescemos pela força do amor. Nossos argumentos e testemunhos são
de suma importância para esta missão. Para isso dispomos da
liturgia, da catequese, pastorais e movimentos, que são meios para
irmos ao encontro das pessoas e das pessoas virem até Deus. Só pelo
fato de sairmos em missão, já somos transformados por ela.
Encontramos diversos grupos a serem evangelizados, fiéis
participantes da Igreja, os que receberam os sacramentos e não
fizeram uma experiência com Jesus, e outros que não o conheceram.
Dessa forma, precisamos ter paciência nessa missão de evangelizar,
para que haja frutos e num momento posterior festejarmos a alegria de
apresentar o Senhor que nos salva.
São muitos os que se encontram nas periferias existenciais e
geográficas, daí a importância de um crescimento humano sustentado
no amor de Deus através do Kerígma. Quando falamos em catequizar,
falamos de uma interação com a vida, tendo a Bíblia como livro
referencial.
Como mudar? Do pessoal para o coletivo, ou do coletivo para o
pessoal? Precisamos dialogar entre esses dois polos, não existe
cristianismo sem comunidade, daí a importância de nos organizarmos
em pequenos encontros, pequenas comunidades. Talvez precisamos
reduzir nossos excessos e trabalhos e priorizar as essencialidades de
cada realidade, e valorizarmos a importância da motivação e da
alegria fraterna.
Não podemos racionalizar o Kerígma, que é uma experiência do
amor de Deus, e não uma explicação sobre essa experiência. Para
isso nos dispomos da mistagogia (introduzir a pessoa ao Mistério de
Deus), e do desafio de uma nova linguagem, para que o Amor de Deus
Revelado em Jesus Cristo chegue aos corações. O encontro com Cristo
ocorre na Palavra, nos sacramentos, nas pessoas. Muitos de nossos
cansaços se referem a busca incansável e isolada por nós mesmos,
faz-se assim necessário um exame de consciência para nos
corrigirmos. Isso inclui uma unidade eclesial, clérigos e leigos. O
Testemunho concreto de Deus em nós, é uma fonte de transmissão de
valores em nossa sociedade atual.
Nosso desafio enquanto cristãos é tornar Jesus conhecido, e isso
se dá por meio do (encontro, kerígma e da missão). Nesse sentido,
Cristologia (estudo sobre Cristo) e eclesiologia (estudo sobre a
Igreja) se encontram, através da alteridade (Encarnação do Filho
de Deus) e da gratuidade (Mistério Pascal – paixão, morte e
ressurreição do Senhor). Jesus é aquele que faz a vontade do Pai,
Ele é a realização do Reino de Deus. Cristo se deixa encontrar,
mas da nossa parte temos que buscá-lo, através da nossa
inteligência e vontade. A Nova Evangelização consiste aí, numa
experiência de fé que é a experiência de Encontro com Cristo. No
Primeiro Testamento, Israel fez a experiência de ouvir o
Senhor, no Segundo Testamento, através da Encarnação do Verbo,
vimos o Senhor.
Assim, é importante entendermos o Evangelho e os Sacramentos, no
primeiro Deus nos fala, no segundo Deus faz através da Igreja. Há
importância muito grande em estabelecermos uma coerência entre a
Eucaristia e os Sofredores. Isso nos impulsiona a nos encontrarmos e
oferecermos a capacidade do encontro com os outros. Nossas formações
precisam estar pautadas no Kerígma, daí entendemos a importância
do Encontro com Cristo, esse desejo, essa atração no Mistério
Redentor, pois é uma forma de compreendermos a nossa missão
enquanto batizados que é levarmos Cristo ao outro. O anúncio do
Senhor que nos transforma é centralidade na iniciação à Vida
Cristã, porque nos leva a aderir àquilo que Jesus nos apresenta,
isso desperta o desejo de o encontrarmos, de sermos conduzidos por
sua Palavra, e nos motiva à leitura orante e a vivermos em
comunidade, motivando-nos ao serviço dos que sofrem.
A experiência da missão nos leva a sermos fascinados pelo Senhor,
conhecer e optar pelo Cristo, a buscar pela verdade contida em cada
ser humano através da fé pessoal que envolve a inteligência. As
escolas de animação bíblica, são caminhos para oferecerem esse
caminho de conhecimento da Palavra. Nas pequenas comunidades, são
lugares propícios para reflexões, assim entendemos que o Evangelho
da vida é o centro da vida de Jesus e também o nosso.
Enfim, a espiritualidade é o motor que nos motiva a essa nova
evangelização. Não podemos nos prender a ideia de buscar
resultados imediatos, mas precisamos semear, e não ter a pretensão
de atingir a todos, sem obsessão quantitativa, mas qualitativa.
Abandone-se no Senhor!
Texto elaborado de anotações da formação para o Clero na cidade
de Lins/SP, na Chácara dos irmãos do Sagrado Coração nos dias
01/09 e 02/09. Palestra ministrada pelo Monsenhor Antônio Luiz
Catelan Ferreira, assessor da Comissão para Doutrina da fé da CNBB,
sobre a Exortação Apostólica do Papa Francisco, Evangelii Gaudium
e sobre o documento 102 da CNBB, sobre as Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil 2015-2019.